A litíase urinária é uma condição patológica bastante freqüente e cuja incidência varia entre 5 e 15% da população mundial, sendo maior a prevalência nos países do primeiro mundo. Dentre os fatores que podem favorecer a sua ocorrência figuram os genéticos, dietéticos, nível de atividade física, temperatura do ambiente, umidade relativa do ar, presença de anormalidades anatômicas, infecção do trato urinário e diversas alterações metabólicas.
A formação de um cálculo no trato urinário é um fenômeno bastante complexo que envolve várias etapas: supersaturação urinária, cristalização, agregação dos cristais e adesão deste agregado ao urotélio formando um nicho para a adesão de novos cristais e, conseqüentemente, crescimento dos cálculos.
A supersaturação urinária, considerada como o evento inicial da litogênese, pode resultar da redução do volume urinário, do excesso de promotores ou da diminuição dos inibidores da cristalização ou, ainda, de alterações do pH da urina.
Os principais promotores da cristalização são o oxalato, o cálcio, o ácido úrico, a cistina e o sódio. Dentre as principais substâncias inibidoras destacam-se o citrato, o magnésio, o pirofosfato, os glicosaminoglicanos, a nefrocalcina, dentre outros.
Os distúrbios metabólicos que podem gerar condições de supersaturação urinária mais comumente identificados entre pacientes litiásicos, habitualmente determinados em amostras de urina de 24 horas, são a hipercalciúria idiopática (aumento da excreção urinária de cálcio na vigência de normocalcemia), hiperuricosúria (aumento da excreção urinária de ácido úrico), hipocitratúria (diminuição da excreção urinária de citrato), hiperoxalúria (aumento da excreção urinária de oxalato) e, em menor grau, a hipomagnesiúria (diminuição da excreção urinária de magnésio).
Diversos são os mitos envolvidos com a formação de cálculos não só nos rins, mas em todo o trato urinário. Esses mitos estão associados principalmente à dieta proibida ou indicada para quem é litiásico. Não é verdade que o consumo de morango ou de tomate predispõe à formação do cálculo.
Jamais as suas sementes serviriam de nicho para o crescimento da pedra, como afirmam algumas pessoas. Elas simplesmente não podem ser absorvidas intactas pelo trato gastrintestinal, tão pouco ser filtradas pelos glomérulos renais, além disso, o teor de substâncias promotoras da cristalização presente nesses alimentos é algo próximo do insignificante.
Contudo, alimentos como espinafre, batata-doce, chocolate amargo, carambola, beterraba e ruibarbo, dentre outros, devem ser evitados pelo seu alto teor de oxalato. É fato que o consumo de líquidos pode dificultar a formação dos cálculos pela manutenção de um volume urinário adequado. Todavia, não é qualquer tipo de líquido que pode ser ingerido. Água, sucos de laranja e de limão são recomendados. Chá preto, café e refrigerantes à base de cola devem ser evitados. A ingestão de bebidas alcoólicas com moderação, principalmente o vinho tinto, parece prevenir a cristalização da urina.
Diversos trabalhos científicos aprovaram a ação do chá de quebra-pedra, não na destruição do cálculo já formado, mas sim na eliminação e na prevenção da formação de novos cálculos. Estudos recentes têm demonstrado que o uso de bebidas contendo bactérias produtoras de ácido lático pode reduzir o risco de litíase, embora os resultados sejam bastante controversos.
Quando o assunto é a calculogênese, vale ressaltar que suplementos de vitamina C e medicamentos inibidores de lipases devem ser evitados por pacientes portadores de litíase urinária. Todavia, o cálcio de maneira alguma pode ser retirado da alimentação. Em recentes estudos controlados, quanto mais cálcio se ingere, menor é a taxa de recorrência de episódios calculosos.
O que se deve efetivamente reduzir é o consumo de proteínas e de sódio, evitando assim o aumento da excreção de ácido úrico e cálcio na urina, o que poderia predispor à cristalização. A litíase urinária é uma doença de base nefrológica incurável.
Mesmo assim, pode ser evitada adequando-se a dieta do paciente litiásico ou instituindo tratamento medicamentoso específico baseado no distúrbio metabólico urinário de cada paciente.
Após o primeiro episódio de cálculo, o novo litiásico deve procurar um médico Nefrologista para realizar uma avaliação metabólica adequada. Somente ele poderá indicar se apenas uma adequação da dieta será suficiente (sendo então o paciente encaminhado à avaliação nutricional), se será necessária terapia medicamentosa ou se serão necessários procedimentos mais invasivos para destruir a pedra como, por exemplo, a litotripsia extracorpórea, realizada pelo Urologista.
Renato de Yorufinga Funara de Carvalho é Doutor em Nefrologia e professor de Fisiopatologia e Morfologia Humana da Universidade Nove de Julho.
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