sábado, 7 de agosto de 2010

Comida é a melhor prevenção para Pedra nos Rins

A formação de pedras nos rins é de ocorrência freqüente, com estatísticas que alcançam 5-10% da população mundial, com estimativas de que aproximadamente 12% das pessoas formarão pelo menos um cálculo renal ao longo da vida, em todo o mundo. Ocorre com muito mais freqüentemente em regiões quentes e secas e nas pessoas obesas, com índices que chegam a 75% em mulheres obesas, em relação às de peso normal. Outros fatores importantes quando falamos de cálculo renal são o alto índice de recorrência, chegando a 15% em um ano, e a 35-40% em 5 anos, além de seu potencial de morbidade, uma vez que 30% dos pacientes requerem hospitalização e 10-15% são submetidos a algum procedimento médico para a retirada do cálculo.

Os cálculos renais são formados a partir de substâncias presentes na urina e capazes de formar precipitados, como os sais de cálcio, o ácido úrico e o oxalato, que vão se agregando até formar grandes partículas, que resultam na formação das pedras. Considera-se uma eliminação excessiva de cálcio pela urina aquela = a 4mg/kg/dia e esse é um fator presente em 50% das pessoas com cálculos renais. Além do cálcio, a excessiva eliminação de oxalato ou de ácido úrico pela urina são fatores importantes na formação dos cálculos, sendo que o ácido úrico pode compor, juntamente com o cálcio, 40% dos cálculos urinários.

A formação de um cálculo renal é influenciada por fatores ditos promotores da calculose, bem como pela ausência dos fatores inibidores da mesma. Dentre os fatores que promovem a calculose estão o ácido úrico, o cálcio, o oxalato, o excesso de sal e de proteínas na dieta e um baixo volume urinário, geralmente causado pela pouca ingestão de água. Quanto aos fatores que inibem a formação de cálculos temos o citrato, as fibras, o potássio e uma boa hidratação do corpo. É sabido que aumentando a ingestão de água e o volume de urina, temos uma queda de 86-96% na incidência de cálculo urinário nos pacientes predispostos à doença.

O papel do oxalato de cálcio

Ao contrário do que se pensava até recentemente, a restrição alimentar de cálcio não é aconselhável, na grande maioria dos casos de cálculos urinários. Pelo contrário, uma baixa ingestão do mineral pode favorecer a formação deles, perpetuando suas recidivas. Isso ocorre porque quando a ingestão de cálcio é normal ou aumentada, ele se fixa ao oxalato no intestino, formando o oxalato de cálcio, que é eliminado pelas fezes. Ao ingerir menos cálcio, por outro lado, o oxalato dos alimentos fica livre na luz intestinal, indo daí ao sangue e do sangue à urina, onde finalmente forma o oxalato de cálcio urinário. É importante salientar que esse oxalato de cálcio urinário constitui 36-70% dos cálculos urinários. A única indicação de restrição de cálcio alimentar é para um tipo de cálculo urinário causado pela excessiva absorção de cálcio através do intestino devido a excesso de cálcio na dieta. De uma maneira geral, indivíduos adultos requerem de 800 a 1200mg de cálcio diariamente. Na menopausa, esse valor sobe para 1500mg/dia.

Segundo estudiosos do assunto, o oxalato parece ser mais importante do que o cálcio para a formação de cálculos. Mas, devido à sua baixa absorção intestinal, somente 10-15% do oxalato urinário provêm do oxalato da alimentação, fato que faz com que as dietas tenham pouca influência na excreção urinária de oxalato. A maioria dos alimentos contendo oxalato e que podem efetivamente aumentar a sua excreção são: espinafre, ruibarbo, beterraba, nozes, chocolate, chá, farelo de trigo e morango. Alguns desses alimentos podem ser consumidos, após o cozimento, como é o caso do espinafre, cuja concentração em oxalato pode cair muito após o cozimento e a eliminação da água de cocção.

As dosagens do oxalato e cálcio na urina de 24 horas podem ser realizadas nos pacientes com cálculos urinários de repetição ou até mesmo em quadros iniciais, para termos uma idéia dos fatores envolvidos na gênese da litíase e definirmos sua orientação nutricional.

A importância do sal na dieta

O sal de cozinha é formado por cloreto e por sódio. A excreção urinária de sódio está associada à excreção de cálcio urinário e vários trabalhos científicos mostram uma relação direta entre o consumo de sal e a formação de pedras nos rins. Logo, faz parte da orientação nutricional desses pacientes o controle na ingestão de sal, evitando o seu excesso.

O papel inverso do potássio

O potássio é um agente contrário à formação de cálculos urinários, principalmente porque ele reduz a excreção urinária de cálcio. Vale lembrar que os alimentos mais ricos em potássio são as frutas e hortaliças, cuja ingestão pode facilitar a prevenção da calculose. É importante, entretanto, que se evite aquelas também ricas em oxalato como figo, ameixa, damasco, castanha, tâmara, uva passa, caqui, amora, tangerina e uva.

Vitamina C

Altas doses de vitamina C podem interferir no metabolismo do oxalato e aumentar a sua excreção. Esse detalhe é particularmente importante nos dias atuais, diante da tendência muito questionada do uso de mega doses de vitamina C.

Proteínas

Vários estudos têm revelado uma tendência aumentada na formação de cálculos renais em pessoas com alta ingestão de proteína animal. A proteína propicia a formação de cálculos por vários mecanismos, mas o mais importante deles parece ser o aumento na excreção de cálcio urinário. Além dele, as proteínas também causam aumento na excreção renal de ácido úrico e redução da excreção de citrato, ambos efeitos estreitamente relacionados à formação de cálculos. De uma maneira geral, os pacientes com cálculos renais devem ingerir uma menor quantidade de proteínas (0,8 a 1,0g/kg/dia), não mais do que 25% do seu valor calórico total.

Purinas

As purinas são produtos de alguns alimentos e que no organismo são metabolizadas em ácido úrico. Assim, dietas ricas em purinas podem elevar o ácido úrico no sangue, que em última análise, acabam elevando também a sua concentração na urina e sua cristalização em uratos. Dessa forma, inicia-se o processo de formação de cálculos de ácido úrico puros ou agregados ao cálcio.

É importante notar que o efeito urinário só ocorre com dietas ricas em purinas (> 175mg/dia). Logo, um controle alimentar das purinas é fundamental para os pacientes com cálculos renais. Dentre os alimentos de muito alto teor em purinas temos: anchova, arenque, vísceras como rins e fígado, sardinhas, pães doces e molhos em geral. Os alimentos de alto teor são: aspargos, couve-flor, leguminosas (feijões, lentilhas e grãos de bico), espinafre, germe e farelo de trigo, carnes e peixes.

Carboidratos

Tem sido demonstrado que o consumo de dieta rica em carboidratos eleva a excreção urinária de cálcio e de oxalato. Logo, no que se refere ao balanceamento da dieta, o conteúdo de carboidratos deve ser mantido com as recomendações de 50-60% do valor calórico total, normalmente indicado para a população em geral.

Fibras Alimentares

Existe uma relação direta entre a menor ingestão de fibras e a baixa excreção do citrato, um importante inibidor da formação de cálculos urinários. Além disso, parece que os fitatos das fibras se ligariam ao cálcio no intestino, formando compostos insolúveis que seriam eliminados nas fezes. As fibras favorecem um trânsito intestinal mais rápido, reduzindo assim a disponibilidade do cálcio a ser absorvido pelo organismo.

Gorduras

A ingestão de gorduras está associada diretamente à formação de cálculos urinários, provavelmente porque os indivíduos que ingerem grande quantidade de gorduras são, em geral, grandes consumidores de proteínas. Além disso, eles consomem pequenas quantidades de fibras. Entretanto, parece haver uma relação direta entre a absorção do oxalato e de cálcio e a ingestão de gorduras.

Líquidos

Deve ser estimulada a ingestão de líquidos - 250ml a cada 4 horas - durante o dia, objetivando um volume urinário de 24 horas de 2.000 a 2500ml. Apesar dessa recomendação geral, esses pacientes devem ser orientados a evitar as bebidas com cola, uma vez que elas podem aumentar a formação de cálculos, provavelmente pelo seu alto teor em oxalato.

As bebidas ricas em cafeína e cerveja parecem ter um efeito protetor na formação de pedras urinárias, uma vez que aumentam o volume urinário, além de formarem urina mais diluída. O consumo de cerveja deve ser reduzido nos pacientes portadores de elevação de ácido úrico.
Os chás mate, erva doce e camomila são permitidos sem restrições. A ingestão de chá preto deve ser desestimulada, uma vez que esse tipo de chá contém alto teor em oxalato, com uma absorção intestinal em torno de 20%.

A princípio, toda dieta parece restritiva, e toda restrição à vida das pessoas nunca é bem vinda. Mas as recorrências dos episódios de calculose são freqüentes e comprometem a saúde, não somente com os episódios de cólicas de rins, como também impondo internações e procedimentos cirúrgicos que poderiam ser evitados. Além disso, as restrições alimentares dependem da gravidade do quadro e do nível de recorrências. Com a interação da equipe multidisciplinar e com a atuação do nutricionista, essas dietas tornam-se possíveis de serem seguidas, balanceadas, versáteis e respeitam as preferências e a vida de cada paciente.

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