Conceituada e premiada endocrinologista, Maria New acaba de se autoproclamar como a guardiã da heteronormatividade nos Estados Unidos da América: graças a uma injecção de estrogénio dada a grávidas, quer impedir que as futuras filhas destas sejam lésbicas.
Com o tratamento "anti-filha lésbica", New quer difundir a actividade do Hospital Monte Sinai, impossibilitando - refere - que as meninas possam ter lábios vaginais grandes, voz grossa e pêlos faciais. Enfim, tudo o que - como refere num artigo na revista 'Anais da Academia de Ciências de Nova Iorque', - considera indícios da homossexualidade provocados por uma hiperplasia supra-renal congénita.
Apesar de já a aplicar, a injecção de dexametasona não está aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), entidade americana reguladora do sector. New luta pelo reconhecimento e invoca um estudo com 26 grávidas na Suécia (que não deu em nada).
Segundo João Manuel Oliveira, psicólogo social, "não é possível considerar a orientação sexual como algo passível de cura". "É preciso perceber que a ciência não está aí desde os anos 70 e que a homossexualidade não é considerada doença ou patológica para as instituições de referência", explica o investigador do Instituto Birbeck da Universidade de Londres.
"Este 'tratamento' baseia-se em fundamentos do século XIX", diz Oliveira, frisando que "é eticamente desadequado". "Para lá do absurdo que é pressupor uma continuidade perfeita entre género e sexualidade, como se as lésbicas fossem todas masculinizadas e como se a masculinidade de uma mulher fosse um problema".
"A ideia de prevenir o nascimento de mais lésbicas trata-se de um total absurdo. A eugenia presente neste engodo a dinheiro fácil deveria ser absolutamente contestada pela ciência e radica num modelo assustador de heterossexualidade preventiva, que, claro, culminará numa falha", conclui.
Certo é que New, que também é pediatra, reduz as lésbicas a hormonas e a lábios vaginais confudíveis com pénis, mas não responde a questões como: se uma lésbica durante anos toma pílula, rica em estrogénio, porque não o deixa de ser. Nem responde ao facto de uma mãe, Jenny Westphal, de 24 anos, sujeita à injecção antilésbica, queixar-se de que a filha de três anos apresenta vários problemas de saúde. Inclusive uma fome desmedida.
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